Milhares
de peregrinos de todo o mundo afluem todos os anos ao Santuário da Cova da
Iria, em Fátima. Não raras as vezes, as estradas assemelham-se a carreiros de
formigas laboriosas que rumam àquele local de culto e meditação. A escassa
distância situa-se a pequena aldeia de Aljustrel que foi terra natal dos videntes.
As suas casas encontram-se preservadas e, para além da sua envolvente mística,
constituem um valioso testemunho do modo de vida no início do século XX.
A
preocupação com a preservação dos espaços relacionados com a vida dos viventes
e das memórias deixadas pela Irmã Lúcia levaram a que em Aljustrel se conserve
um pequeno núcleo rural de valor museológico, formado por habitações
construídas de forma tradicional
Numa
das habitações, cujas origens remontam muito provavelmente ao século XVII,
instalou o Santuário de Fátima a Casa-Museu de Aljustrel. Trata-se de um espaço
museológico que associa a vida dos videntes a um contexto histórico e
etnográfico que nos dá a conhecer os usos e costumes das gentes de Fátima ao
tempo em que tiveram lugar as aparições. No seu interior, encontra-se patente
ao público uma exposição de trajes tradicionais, as alfaias, as ferramentas do
pedreiro e do cabouqueiro, o tear e o carro de bois. Mas, para além das peças
que exibe, preserva as divisões da habitação, desde a alpendrada à cozinha, dos
quartos de dormir à adega, do curral à casa-de-fora.
O
folheto inclui um extracto do livro “Aljustrel, Uma Aldeia de Fátima”, o qual
descreve o traje da região: “No dia-a-dia, as mulheres vestiam uma saia de
estamenha muito rodada, apertada na cintura, geralmente de cor preta ou azul e,
entre esta e a saia branca, usavam uma algibeira para guardar o dinheiro. As
blusas eram de riscadilho de algodão ou de chita estampada, com folhos que
caíam em cima do cós da saia, abotoadas sobre o peito com botões de osso.
O
vestuário masculino, tal como o da mulher, diferia conforme a ocasião. A roupa
interior do homem era constituída por camisa branca, feita de algodão, usada
bastante afastada do pescoço; ceroulas de flanela ou de algodão grosso com cós
na cintura, preso com dois botões e fitilhos para ajustar a parte inferior;
calçavam meias ou peúgas feitas com cinco agulhas”.
O
concelho de Ourém, no qual a freguesia de Fátima se insere, caracteriza-se a
sul pelas formações calcárias enquanto a norte predominam os arenitos,
diferenças estas que se reflectem nos materiais empregues na habitação
tradicional. Por outro lado, se existem povoações como a freguesia de Olival
onde os solos são mais férteis devido à existência de cursos de água com maior
caudal, outras existem onde ela escasseia e os agricultores necessitam de
recorrer à água dos poços para manter as suas culturas. Entre umas e outras,
distingue-se a abundância de pastos e uma maior incidência da cultura do milho,
o que facilita a criação de gado bovino e a sua utilização como força de
tracção enquanto noutras povoações esta é feita com o auxílio do burro, como
sucede na Freixianda.
A
preservação dos espaços por motivos religiosos e os numerosos documentos da
época, incluindo fotografias e peças de vestuário, tornaram-se um importante
registo que nos permitem reconstituir, com maior fidelidade, os usos e costumes
do povo sem estes terem sido sujeitos às modificações que foram feitas noutras
regiões do país. Por conseguinte, a Casa-Museu de Aljustrel, em Fátima, merece
a visita de todos quantos se interessam pelos assuntos relacionados com a
Etnografia e o Folclore, independentemente das suas convicções religiosas.
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