Esta reportagem fotográfica,
que agora publicamos no blog sobre a Bataria
de Alpena (Trafaria), uma
antiga unidade militar do Exército Português, que se encontra em ruínas.
É um exemplo do estado a que chegou muito do património militar do antigo
Regimento de Artilharia de Costa (RAC). Refere-se a uma época muito
interessante da nossa história militar contemporânea.
Forte de Alpena: breve resenha histórico-militar…
O Forte ou bataria de Alpena, pelo que pude obter em fontes
documentais e electrónicas, foi uma
estrutura militar construída nos finais do Século XIX (1893) e
integrava o sistema de fortificações do Campo Entrincheirado de
Lisboa, nomeadamente, os redutos da Raposeira Grande e Raposeira Pequena. Ficou
operacional em 1901-1902. Situa-se, a menos de 1 km do Monte da Raposeira
(Trafaria,Almada), nas proximidades de uma outra unidade militar: a 5ªBataria
da Raposeira. Ambas foram integradas na frente marítima de Defesa de
Lisboa. A guarnição destas unidades militares alojava-se numa outra
edificação – o quartel da Trafaria, inaugurada em 1905, pelo monarca D. Carlos
(1889-1908).
Ao longo da 1ªMetade do Século XX, incluindo na 1ªGuerra
Mundial, estas estruturas foram apetrechadas com artilharia de maior calibre
usado na época como,por exemplo, canhões Krupp de 28 cm, para uma
eficaz defesa do Campo Entrincheirado de Lisboa e,como já vimos, da frente
maritima da Costa da Caparica e do estuário do Tejo. Em caso de conflito, era
umas das fortificações que estava na primeira linha de fogo contra alvos
anfíbios e aéreos.
No ano de 1940, o Governo Português, através do Comando da
Artilharia da Defesa Antiaérea de Lisboa, encara com carácter de urgência o
estudo da defesa antiaérea de Lisboa. Em caso de necessidade numa 3ª fase,
as Baterias AA seriam instaladas para defesa das posições de Artilharia de
Costa, como era o caso desta fortificação. Contava com 12 “ninhos” de
artilharia onde podiam ser instaladas baterias de costa ou antiaéreas para
uma completa defesa da zona costeira e da cidade de Lisboa.
Com o final da 2ªGuerra Mundial, em virtude do Plano Barron,
perdeu a sua função militar, sendo a sua artilharia desmantelada e tornou-se um
sistema de paióis anexos à 5ª Bateria da Raposeira RAC e pertencia ao , Em
1961 foram efectuadas obras de construção de novos paióis pela
DSFOM. Actualmente, com a desactivação do RAC, este complexo bélico foi
abandonado pelo Exército e deixado entregue ao vandalismo.
Ao percorrermos estas estruturas fortificadas podemos
visualizar uma excelente perspectiva sobre a Arriba Fósil da Costa da Caparica,
das praias, do Forte do Búgio, da foz do Rio Tejo, da Serra de Sintra e da
costa sul de Lisboa. Vale a pena ir. De acordo com a concepção de defesa
de costa abordada, a bateria de Alpena surge como resultado de uma necessidade
urgente da guerra internacional, cujos reflexos se fizeram sentir também em
Portugal. A sua missão principal era a da defesa da capital portuguesa e da
frente marítima do estuário do Tejo, especificamente do
porto de Lisboa. Deveria actuar contra unidades navais.
Em termos de instalações, o complexo militar era constituído
por uma Porta d’ Armas, a norte e a sul por um Portão de Viaturas, vários
edifícios subterrâneos, todos eles interligados por um sistema de corredores,
túneis e guaritas de vigilância. Era uma espécie de linha maginot em
miniatura.
O Tempo é algo que não volta atrás…
Em Portugal temos inúmeros locais esquecidos pelo
Homem/Estado. Entregues ao tempo…que não volta para trás. Ao percorrer estas
ruinas, sinto-me uma espécie de intermediário entre os artilheiros que fizeram
uma parte da sua vida neste complexo militar. Infelizmente, o nosso pais, ao
contrário de «Nuestros Hermanos», não sabe preservar o seu património, neste
caso, o militar.
A Artilharia de Costa (RAC) tem razões para ter
esperanças renovadas no que toca à preservação histórico-militar, em
Portugal. Recentemente, nos finais do ano de 2015,nasceu a Associação dos
Amigos da Artilharia de Costa que vivamente saudamos e, quem sabe, no futuro
possamos vir colaborar no trabalho que se propõem a desenvolver. Ao longo
do ano de 2016, irei realizar mais uma “epopeia” pelas ruínas da
5ªBataria da Raposeira (Trafaria) e da 6ªbataria da Raposa (Fonte da
Telha),ambas do Grupo Sul do RAC, onde irei captar o interior dos espaços
subterrâneos que fazem deste local, um património ímpar que deveria, e merecia,
ser preservado e posto ao serviço da população local.
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