"A 4 de Março de 1898 a cidadã Mary Ann Broomfield, de naturalidade inglesa, comerciante, residente em Lisboa, fazia o pedido de registo do nome «Padaria Ingleza», estabelecida na Rua Cais do Tojo, 15. Ao mesmo tempo pedia também o registo do nome «English Bakery». Contudo, seria pelo primeiro nome que a sua padaria ficaria conhecida em Lisboa.
Hoje no local, só resta um prédio desinteressante mas foi uma loja considerada pelos seus produtos e ponto de encontro de muitos lisboetas. Entre eles salientava-se Fernando Pessoa que ali se encontrava com a sua amada Ofélia.Em carta datada de 2 Agosto de 1920, Fernando Pessoa escrevia: «Querida Nininha pequena: Estarei no Conde Barão à tua espera das 8 às 8 1/2. Estou escrevendo de onde vês pelo papel, e o Osório vai fazer-me o favor de te levar isto, a casa da tua irmã.
Olha: estarei no Conde Barão, mas no recanto da Padaria Ingleza entre as duas horas citadas, que, creio, te serão convenientes»
Numa outra carta, de 12 de Agosto de 1920, Ofélia respondia:
«Meu Nininho, Afinal hoje estive à tua espera desde as 5 para as 5 até às 6 h, e não houve forma de te ver, nem tão-pouco te interessaste em combinar forma de nos falarmos amanhã....
Estarei também às 8 horas no Cais do Tojo, ao pé da Padaria Ingleza...»
Foi o sucesso desta Padaria que fez abrir uma outra loja, com o mesmo nome, no Largo de S. Julião, 19. Num prédio pombalino foi feita uma adaptação num estilo “Arte Nova” puro, com uma fachada em ferro e apresentando vitrais no mesmo estilo, ao nível do 1º piso. Estas alterações, realizadas em 1907, ficaram a cargo do construtor Carlos Mestre Rodrigues.
A antiga Padaria Ingleza do Largo de São Julião foi mais tarde comprada para filial do Banco Borges & Irmão, que seria adquirido pelo BPI em 1991, e encontra-se presentemente fechada.
No Natal de 1930, existia ainda a Padaria Ingleza no Cais do Tojo como o mostra a fotografia da sua montra num concurso de Montras Nestlé, publicado na Ilustração Portuguesa, no número de Natal.
Em conclusão, existiram ao mesmo tempo, em Lisboa, duas lojas, pertença da mesma proprietária, com o nome de «Padaria Ingleza», como nos revela uma peça em cerâmica, produzida pela Fábrica de Sacavém.
Assim termina o mistério da Padaria Ingleza, com duas moradas, correspondendo uma delas a uma filial. Numa época em que estas ainda eram pouco frequentes traduzia, sem dúvida, um negócio de sucesso."
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